23/11/10

TERTÚLIA "MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA PARA PROFESSORES"

No passado dia 19 de Novembro decorreu na Escola Profissional de Ourém, pelas 21:00h, uma Tertúlia dedicada ao tema “Manual de sobrevivência para professores”.

O convidado para dar o mote à conversa foi João Lázaro: Psicólogo Clínico, actor, encenador, professor e alguém que mantém uma relação de amizade com esta Escola, tendo sido, há uns anos atrás, seu Director Pedagógico.

O tema em discussão é um tema bastante actual. Como poderão sobreviver os professores numa época em que o seu papel é constantemente posto em causa por todos: por alunos, pelos seus pais, pela sociedade em geral e mesmo pelo próprio Ministério da Educação.

Como se poderão os professores adaptar a este novo paradigma e prepararem-se para alunos cada vez mais irrreverentes, mais inconformados com os actuais sistemas de ensino, mais protegidos pelos seus pais, com mais acesso a todo o tipo de informação e muito mais aptos a lidar com as questões dos avanços tecnológicos?

É um desafio… um grande desafio.

Pelo que foi dito ao longo da tertúlia, os professores têm que compreender que os alunos são naturalmente curiosos e criativos e os professores têm que aprender a utilizar em proveito da aprendizagem essas suas características. Muito mais do que meros transmissores de conhecimentos, os professores deverão saber conduzir os seus alunos pelas muitas formas de adquirir conhecimentos que existem hoje disponíveis, das quais a internet é, sem dúvida, o ex libris. O aluno deve ser sempre considerado como um todo. O professor deve olhar o aluno não apenas da sua vertente de aprendente, mas sim e sobretudo da sua vertente pessoal, familiar e social. Todos os temas a abordar na sala de aula são importantes. E muitas vezes, abordar temas apenas relacionados com os interesses dos alunos, fugindo aos temas da aula acabam por ser tão ou mais importantes na formação pessoal e cívica do aluno. É preciso saber ouvi-los. É preciso saber discutir ideias com eles. É preciso deixá-los colocar em causa os ensinamentos, as regras sociais, os papéis de todos os actores… é preciso deixa-los ser adolescentes com tudo o que isso implica de complexidade, de irreverência, de procura pelo seu lugar na sociedade.

O papel do professor é aqui fundamental.

Mas como deve ser o professor? Como se deve comportar? O que esperam os alunos do(s) seu(s) professor(es)?

João Lázaro trouxe-nos uma visão interessante a este respeito. Os alunos querem professores exigentes e rigorosos. Respeitam e apreciam professores que sabem exigir, professores com os quais sentem que aprendem, independentemente de os considerarem ou não “tipos porreiros”.

Ao invés rejeitam e até ridicularizam aqueles professores que se tentam aproximar deles utilizando o mesmo tipo de linguagem ou o mesmo tipo de comportamento. Não respeitam os professores que querem tanto ser bem vistos pelos alunos que colocam em causa o rigor e a aprendizagem. E por fim, marginalizam aqueles que não são coerentes, que dizem uma coisa mas que têm comportamentos contrários, ou que hoje impõem algumas regras, para no dia seguinte as mudarem por completo.

Também aqui o papel dos pais é fundamental e há que saber trazê-los à escola. Há que saber transmitir-lhes a importância de uma boa educação, porque são muitas vezes eles os primeiros a menosprezarem os estudos dos seus filhos e uma educação assente em bases sólidas e diversificadas. E aqui cabe à Escola mudar os seus próprios procedimentos e não chamar à Escola os pais apenas quando os filhos têm problemas comportamentais ou de aprendizagem. Há que dar importância às coisas boas que os filhos são capazes de fazer. Às coisas positivas. Aos trabalhos bem feitos. Às opiniões pertinentes. Ao envolvimento em actividades da Escola. À defesa de colegas. Às boas notas… e a tantas, tantas outras coisas. Porque será que no nosso ensino apenas se dá importância aos aspectos negativos, relegando para segundo plano e até mesmo para o esquecimento tudo o que os alunos alcançam de bom?

Há que conseguir também, e de formas inovadoras, deixando os antigos e pesados métodos de ensino de vez no passado, motivar, envolver os alunos, mostrar-lhes o quanto uma boa base educativa os prepara para enfrentar um futuro que nem sempre é risonho. E aqui há que aproveitar o papel dos Delegados de Turma. Eles podem ser agentes de mudança… de mudança na mentalidade dos colegas, porque normalmente são líderes, não jovens com capacidade de impor as suas ideias junto dos colegas. Normalmente são jovens predispostos a ouvir a Escola e os seus actores e há que saber aproveitar esta predisposição em benefício dos próprios alunos e da sua aprendizagem.

Novos paradigmas se impõem ao Ensino. Paradigmas que tardam a ver implementação nas Escolas portuguesas, mas que urge mudar sob pena de estarmos a educar seguidores e não pessoas aptas, capazes de imporem as suas próprias ideias, pessoas capazes de construir um futuro questionando-o e obrigando-o a evoluir.

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