01/08/12

QUANDO UM MECÂNICO GANHA MAIS QUE UM CHEFE DE COZINHA (I)

Regresso ao tema dos cursos e das profissões, utilizando o mesmo título porque me parece apelativo. Apenas isso. Não pretendo valorizar, em excesso, a profissão de mecânico, nem desvalorizar a de cozinheiro. Ou vice-versa. As duas, como todas as outras, merecem-me o maior respeito e acredito que um equilíbrio sustentado na diversidade, de cursos e de profissões, evitaria as situações dramáticas que atualmente muitos dos nossos jovens estão a viver. Depois de um forte investimento pessoal, a estudar, associado aos grandes sacrifícios financeiros que é necessário uma família fazer para isso assegurar, vêm tempos de enorme frustração. Do jovem e da sua família. Ambos se esforçaram, cada um à sua maneira, para atingir um objetivo superior (a conclusão de um curso superior), que depois se desmorona na incapacidade do jovem em encontrar emprego. Nunca como agora (e nos últimos anos) foi tão difícil a um jovem “da província” estudar numa universidade pública portuguesa. Aos cerca de mil euros anuais de propinas, é preciso adicionar a renda de um quarto, sempre a rondar os 250 a 300 euros mensais e depois a comida, as viagens, as fotocópias (porque os livros são um luxo) e algum “dinheirito de bolso”, tudo a rondar os 80 a 100 euros por semana. Basta somar e estamos numa mesada a rondar os 750 a 800 euros por mês. Quantas famílias podem disponibilizar mensalmente este valor? Quantos sacrifícios são necessários fazer para isso? E depois? Depois nada ou quase nada.

Voltando ao estudo “Qualificação para a reconversão sectorial” da autoria de Paulo Pedroso, João Elyseu e João Magalhães e tendo como base de análise territorial a NUT II, Lisboa (onde Ourém se insere) concluímos como “bastante adequados” os cursos de metalurgia e metalomecânica, construção e reparação de veículos a motor, indústrias alimentares e hotelaria e restauração. Como “adequados” os cursos de electricidade e energia, electrónica e automação, produção agrícola e animal e floricultura e jardinagem. Como “pouco adequados” os de turismo e lazer e de protecção do ambiente. E como “não adequados” os de tecnologia e produtos químicos, industrias do têxtil, vestuário, calçado e couro, dos materiais (madeira, cerâmica, cortiça e outros), indústrias extractivas e silvicultura, caça e pescas. Admitindo que este exercício se pode tornar, no mínimo, um pouco confuso e não querendo aqui discutir critérios recentemente utilizados para a aprovação da oferta formativa 2012/2013, podemos concluir que para a região de Lisboa, e segundo este estudo, se deve apostar prioritariamente e a médio prazo nas seguintes áreas/profissões:
  • Metalurgia e metalomecânica
  • Construção e reparação de veículos automóveis
  • Indústrias alimentares
  • Hotelaria e restauração
Numa segunda opção pode-se investir nas seguintes:
  • Electricidade e energia
  • Electrónica e automação
  • Produção agrícola e animal
  • Floricultura e jardinagem
E o resto, segundo o referido estudo, passa para um plano totalmente secundário, não conseguindo associar a formação a áreas profissionais que garantam a mínima empregabilidade. Naquilo que directamente diz respeito às nossas escolas (EPO e EHF), concluímos que temos vindo a fazer apostas certas. A verde, sublinho as áreas que temos em funcionamento e que importa continuar a desenvolver e a vermelho, aquelas que acredito virão a acrescer à nossa oferta futura. Não estou totalmente seguro. Daí o partilhar estes pensamentos, admito que pouco estruturados, na expectativa de que aqueles que os lerem me possam dar uma ajuda. Todos os contributos são bem-vindos.
Mas de uma coisa estou certo. A generalidade das áreas antes referidas, quer se trate de ensino profissional ou superior, continuam a assegurar uma excelente capacidade em termos de garantia de integração rápida no mercado de trabalho. E por isso é importante reforçar uma aposta equilibrada na sua continuidade, não descurando a diversidade que importa acautelar. De cursos e de profissões.

Francisco Vieira
Diretor Executivo da Insignare