08/03/10

Efeito de sedução educativa

Estávamos no final da década de 90, e a Professora de Psicologia Educacional, do curso de Matemática - ramo de ensino, da Universidade de Coimbra, acabara de ministrar uma aula sobre um tema que nunca mais me esqueci. Estou a falar do “Efeito de sedução educativa” ou do “Efeito Dr. Fox”.

Passo a explicar.

Na década de 70 do século XX, a questão do entusiasmo do professor interessou a vários autores. Entre eles destaco D. H. Naftolin, J. E Ware & F. A. Donnelly que, em 1972, realizaram uma investigação que se tornou famosa, constituindo uma referência no debate sobre as implicações deste aspecto na aprendizagem.

Conjecturavam estes autores que os estudantes tendem a avaliar o desempenho dos professores pelas características de personalidade com que se apresentam.

Para testar a sua hipótese, contrataram um actor profissional que devia fazer-se passar por “especialista” na suposta “aplicação da teoria do jogo matemático à formação de médicos”, e proferir uma palestra destinada a formadores profissionais. Assim, um fictício Doutor Myron L. Fox, depois de ter sido devidamente apresentado, com realce para as suas credenciais académicas de elevado nível, utilizou um discurso plausível, inspirado e envolvente mas sem sentido, tendo, para isso recorrido a neologismos, contradições, frases desconexas e, aqui e ali, um toque de humor.

Acontece que a assistência, além de não ter desconfiado do engano – nem mesmo o apelido do especialista, Raposa, o denunciou –, avaliou positivamente a palestra como bem organizada, claramente apresentada e estimulante. Ou seja, teve a ilusão de ter aprendido, mesmo quando não havia conteúdo para aprender!

Esta mesma experiência foi repetida, algum tempo depois, em que o mesmo Dr. Fox proferiu uma palestra a um de dois grupos de estuantes universitários similares. Ao segundo grupo, coube a um Professore Catedrático (este sim, verdadeiro conhecedor da matéria em questão) a apresentação da referida palestra. No final, propuseram a ambos os grupos que avaliassem a mesma e que fossem submetidos a um breve teste para avaliar os conhecimentos adquiridos.

Com maior ou menor espanto, o grupo do Dr. Fox teve os melhores resultados bem como teve o palestrante as melhores referencias por parte dos alunos.

Este curioso fenómeno – que ficou conhecido por "efeito de sedução educativa" – desencadeou durante a década em causa, diversos outros estudos cujo objectivo foi verificar se a expressividade do professor favorece ou não os resultados da aprendizagem.

Em minha opinião esse é um assunto sem discussão. Podemos ser muito bons no que fazemos, podemos utilizar as tecnologias mais avançadas do mercado, mas se não soubermos chegar aos nossos alunos (captar-lhes a atenção), falar numa linguagem atraente, clara e simples, então seremos apenas mais um. Mais um professor!

Numa altura em que a necessidade de nos distinguirmos entre os que nos rodeiam ser mais do que evidente, julgo ser muito premente reflectirmos nesta questão.

José Pegada


1 comentário:

  1. Dialogo interior ou vergonha cidadã…

    Falar NÃO é DIZER…
    Olhar NÃO é VER…
    Ouvir NÃO é ESCUTAR…

    Todos ouvimos a notícia de que uma criança de 12 anos se tinha suicidado, atirando-se ao rio, despiu-se e atirou-se ao rio, dissera um primo que o seguira para o dissuadir de tal ideia, ou até talvez, com falta de coragem para fazer o mesmo, ou dizendo de outra forma,
    - BASTA! Não vão mais bater-nos!
    Muito se tem discutido, acerca das razões que levam alguém ao suicídio, coragem, desespero, cobardia, … mas o que pode levar uma criança de apenas 12 anos a desejar deixar de brincar com os seus pares??? Esta é uma pergunta que nos deve inquietar, que nos deve tirar o sono, que nos deve envergonhar, enquanto adultos. Afinal que valores transmitimos aos nossos descendentes, que exemplos lhes damos, que lições de vida???? Infelizmente nem todos tiveram o privilégio de receber testemunhos e exemplos de vida que os façam amar essa vida, prezar essa vida, mas sobretudo reflectir sobre a existência humana. Todos devemos sentir-nos culpados enquanto cidadãos e seres humanos, perante um acto de desespero ou talvez um grito a dizer:
    - parem a correria em que se tornou a vida hoje e VEJAM como estão a formar-se as nossas crianças! … Estamos a crescer sozinhos! … Vejam a crueldade das crianças contra outras crianças!
    Todos nós falamos muito hoje de bullying, da crueldade das crianças, da falta de valores, mas falamos apenas, não dizemos nada, e muito menos fazemos. E as outras crianças onde estão agora, o que estão a pensar, como se estão a sentir…? E o que pensar de pais adultos que depois deste basta do Leandro, ainda são capazes de pensar apenas em si e não em emendar a sua forma de agir, mas ainda de ameaçar outras crianças, curvando-as pelo medo. O que nos deve preocupar agora é o que se passa nestas pequenas cabeças de agredidos e agressores. Como se sentirão agora aqueles que podem ter levado o pequeno Leandro a gritar ao mundo: - eu já não suporto mais, não quero viver mais!
    Tal como uma planta precisa de suporte para crescer, também o ser humano precisa de equilíbrio, que só pode ser dado vivendo e aprendendo e esta mensagem deve ser transmitida pela educação e pela cultura de cidadania de que hoje tanto se fala dizendo tão pouco a cada um de nós!

    À minha volta tanto barulho,
    Não consigo pensar,
    Rodo como um pião,
    Desorientado,
    Em confusão,
    Corro, falo sem cessar,
    Mas não digo nada,
    Não faço nada!
    Chega! Tenho que fazer alguma coisa
    É urgente repensar…
    perguntar à vida,
    o que andamos a fazer com ela!
    Todos lamentamos muito,
    acusamos muito,
    falamos demais!
    E o que fazemos?

    ResponderEliminar