04/10/10

20 Anos de Ensino Profissional em Ourém


No próximo dia 1 de Outubro comemoram-se 20 anos sobre o início da actividade lectiva Escola Profissional de Ourém. Na altura, as famílias de 23 jovens com reconhecidamente pouco sucesso no sistema regular de ensino, ousaram entregar os filhos a uma desconhecida escola, que contra o tempo dividia a sombria cave da associação de comerciantes, criando as imprescindíveis salas de aula. O espaço, como quase tudo, era cedido pela associação, convicta da importância futura do empreendimento que com a câmara municipal tinha tomado em mãos. Os professores, quase todos de Ourém ou de Fátima, da Escola Secundária ou do CEF, gente já experiente, competente, entusiasta e disponível para colaborar muito para lá daquilo que lhes poderíamos pagar. Confirmo hoje aquilo em que sempre acreditei. Muito do sucesso que tem marcado estes 20 anos da Escola Profissional de Ourém, ficarão para sempre a dever-se à entusiástica competência do seu corpo docente inicial.
Dos 23 jovens que connosco iniciaram este caminho, 19 concluíram com sucesso o seu curso de Gestão e hoje estão por aí nas mais diversas actividades, tendo obtido, na generalidade, um adequado reconhecimento. Pessoal, profissional, empresarial.
Lançando um breve olhar sobre estes 20 anos de actividade, relembro as dificuldades dos momentos iniciais, sobretudo a constante dúvida que recaía sobre a nossa competência e seriedade, a qualidade do trabalho realizado, o fim constantemente anunciado do modelo e do seu financiamento, a viabilidade da integração dos jovens no mercado de trabalho. Tantas dúvidas iniciais que de algum modo, não de todo, se forma esbatendo com o tempo. Ao relembrar as azedas palavras de tão esclarecidas personalidades, não me consigo recordar, uma única vez da parte dos mesmos, de uma palavra diversa de aceitação do erro e de reconhecimento de uma nova realidade. Afirmada e vencedora.
Contra tudo e contra todos, o ensino profissional e neste caso concreto a Escola Profissional de Ourém foi vencendo todos os obstáculos, procurando persistentemente uma afirmação do seu estatuto e uma fundamental estabilidade. Nunca se quis mais que um tratamento semelhante a todos aqueles que como nós desenvolviam a sua actividade na área da Educação. Admito hoje, já ultrapassado o nefasto saudosismo que constantemente clamava pela ausência de escolas comerciais e industriais, que Portugal ainda não reconheceu a importância decisiva do ensino profissional na modernização das empresas e na melhoria dos seus níveis de produção. E a culpa não é das empresas, que a par das suas associações empresariais e das autarquias sempre e de diferentes formas acarinharam este modelo. A responsabilidade encontra-se no Poder Central, matizado em todas as suas variantes partidárias, que sempre conseguiu proceder a uma alteração das regras quando tudo parecia caminhar para a estabilidade. Como um “patinho feio” da educação portuguesa, o ensino profissional é sempre o último a poder aceder a apoios verdadeiramente estruturantes e modificadores e é sempre o primeiro a ser penalizado em tempo de crise. E como sempre no passado, cá estamos de novo numa alteração ao modelo de financiamento, fazendo recair sobre as escolas o esforço de sobrevivência.
Vinte anos depois é com orgulho que olhamos para a realidade que é hoje a Escola Profissional de Ourém. Cerca de 500 alunos distribuídos por duas escolas, confirmam aquilo que foi lema desde o momento inicial – trabalho, rigor e qualidade.
Francisco Vieira
In Jornal de Leiria
Ed 1368 de 30 Setembro 2010

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