02/09/11

A CENTRALIDADE DE OURÉM

Numa recente reunião para recolha de contributos com vista à elaboração de um plano estratégico para o concelho de Ourém, a moderadora manifestou-se surpreendida pela resposta unânime dada pelos empresários presentes. Na opinião destes, Ourém não é só por si uma centralidade, assumindo que esse papel motor é desempenhado por Leiria. A discordante surpresa da moderadora advinha, entre muitas razões sustentáveis, de ter sido a primeira vez neste tipo de trabalho, onde importantes atores locais não assumem as suas vantagens intrínsecas, apontando para um vizinho a responsabilidade pelas dinâmicas do seu próprio desenvolvimento.


Tempos depois e em conversa de amigos, abordou-se o tema da extinção / fusão de municípios, aquilatando a coragem política a que o mesmo obrigará. Se nenhum dos presentes discordava da ideia, o problema surgiu quando se tentou exercitar a eventual medida, pegando em casos concretos. Se muitas das fusões pareciam coerentes e necessárias, outras demonstravam níveis elevados de complexidade. E chegou-se ao caso do concelho de Ourém. Considerando a sua dimensão geográfica, localização e tipologia do território, a população e as suas variações, o esforço de criação de riqueza e emprego que o tem caracterizado e até distinguido, as afinidades sociais e culturais com os concelhos limítrofes e as dinâmicas de interação com os mesmos, concluímos que o concelho de Ourém não encontra ligações coerentes com o território envolvente. De tudo isto parece resultar uma incapacidade para aglutinar concelhos vizinhos e de igual modo uma dimensão e especificidade que impede um movimento de sentido contrário. Porque a dimensão do território, só por si, não me parece ser um dado decisivo para esta análise, apresento alguns dados em termos populacionais, considerando os resultados preliminares dos Censos 2011. Ourém apresenta 45 887 habitantes, incomparavelmente abaixo dos 127 468 de Leiria e também significativamente menor que os 55 183 de Pombal. No entanto e isoladamente, Ourém apresenta mais população que a soma dos concelhos limítrofes de Batalha, Alcanena, Alvaiázere e Ferreira do Zêzere e também muito mais população que Torres Novas (36 837) e Tomar (40 862). Comparando os concelhos do Pinhal Litoral (Batalha, Leiria, Marinha Grande, Pombal e Porto de Mós), os do Médio Tejo (Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Sardoal, Tomar, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha) e os do Pinhal Interior Norte (Alvaiázere, Ansião, Arganil, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Lousã, Miranda do Corvo, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Pedrogão Grande, Penela, Tábua e Vila Nova de Poiares), Ourém ocupa a terceira posição em termos da população residente, logo a seguir aos casos já referidos de Leiria e Pombal. Um dado certamente a reter e que admito tenha passado sempre ao lado de muitas das decisões de investimento público feito nos últimos 30 anos. Importa aqui acrescer e porque impossível de desenvolver por naturais limitações de espaço, que o concelho de Ourém foi o que apresentou, no mesmo período, os melhores dados em termos económicos no âmbito do já defunto distrito de Santarém. Mais investimento privado, mais empresas a abrir, menos empresas a fechar, maior criação de emprego, menor número de desempregados. Mas esta análise ficará para um próximo escrito.

Importa agora concluir. Em face do que antes ficou dito, das dúvidas dos empresários, da certeza metódica da moderadora, da dimensão da população e da sua dinâmica económica, não será o concelho de Ourém, só por si, uma importante centralidade nesta mancha territorial que integra o Pinhal Litoral, o Médio Tejo e o Pinhal Interior Norte? Aqui deixo a questão e a ela brevemente voltarei.

Francisco Vieira

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