18/05/11

Turismo em mudança


Chegam-me notícias sobre demissões na Entidade Regional de Leiria-Fátima e, em consequência, a necessidade de serem convocadas eleições, antecipadas, como parece estar na moda. Tudo parece resultar da dificuldade em ultrapassar as fortes limitações financeiras impostas pelas reduções feitas pelo Governo ao orçamento desta Entidade, fruto da catastrófica situação económica em que se encontra o nosso País. Daqui decorre uma incapacidade em garantir os meios necessários para fazer face às despesas correntes e ao desenvolvimento das atividades de animação e promoção deste pequeno território turístico. Admito que, com as saídas de Alcobaça e da Nazaré para o Oeste, se perdeu a dimensão e massa crítica, afunilando a área de atuação excessivamente em torno da capacidade de atração de Fátima, incomparável com a globalidade restante. E, se no passado, os eixos prioritários com dimensão para justificar a promoção internacional se dividiam entre Alcobaça, Batalha, Fátima e Nazaré, a perda de duas destas referências afetou gravemente uma equilibrada diversidade, completada por destinos que não conseguem atingir dimensão turística para ultrapassar um maioritário consumo interno, como são os casos de Leiria, Pombal, Marinha Grande e porto de Mós. Desta conjugação de fatores negativos resulta a grave situação hoje conhecida e a instabilidade que dela decorre. Admito, como repetidamente nos últimos anos o tenho dito e escrito, que a solução está na fusão de Leiria-Fátima com o Oeste, garantindo um território com dimensão adequada para autonomamente se afirmar entre Lisboa e o Centro. Desconheço se o Oeste vive dificuldades semelhantes a Leiria-Fátima, assim como desconheço se a sua afirmação muito especializada, em torno do golfe, dos resorts, e do sol e mar, tem interesse em se conciliar com uma maior diversidade de produtos turísticos. Conheço as vantagens da diversidade na visita a um território, mas conheço igualmente a complexidade acrescida que é para a sua promoção, muito particularmente no mercado externo.
Continuo a acreditar que essa será uma boa solução, saibam os responsáveis vencer as guerras de capelinhas normalmente associadas à localização da sede, aos pesos partidários, à distribuição de lugares e outras minudências que normalmente retiram inteligência e sagacidade a qualquer decisão nacional. Vamos esperar para ver…
Mas se uma parte do território turístico de Leiria-Fátima até poderá sobreviver sem um esforço permanente de promoção e captação de visitantes, a capacidade hoteleira instalada em Fátima, não resistirá à ausência de uma atividade promocional concertada, dirigida e sistematicamente desenvolvida. Daí a importância de Fátima encontrar rapidamente uma solução para ultrapassar as atuais limitações, unindo esforços de entidades e empresas, alocando meios e procurando apoios. Em boa verdade, a sua especificidade e dimensão prejudicam a promoção das outras diferentes realidades, assim como Fátima é tantas vezes prejudicada, por esta necessidade de afirmar a diversidade. E isto sem colocar em causa o trabalho específico e estatutariamente definido da Entidade Regional de Turismo.
Não posso deixar de lamentar a forma em como Leiria se parece preparar para perder mais uma área específica de competência e intervenção (e aqui não estou a falar da autarquia), preocupando-se mais com bafientos jogos de bastidores, medindo forças ou colocando peões, ou mais grave ainda, quando alguns dos mais interessados atores da atividade turística sorriem sobre a desgraça alheia, não tendo ainda percebido que esta pode ser o princípio da sua.
Francisco Vieira
Diretor Executivo da INSIGNARE
in Jornal de Leiria, 12 de Maio de 2011

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