25/11/11

O setor da construção no contexto atual

Atualmente muito se tem falado da crise, no contexto nacional e no panorama internacional. O setor da construção em particular, não está imune a este desígnio e parece-me evidente que pouco voltará a ser como antes dado que há muito tempo que esta crise era evidente e previsível para o setor.

Após o fim dos quadros comunitários de apoio, muitas das atuais tipologias de obras públicas tendem a abrandar. Por outro lado, esta dinâmica tende a arrefecer pelo fato de muitas das necessidades estarem colmatadas.

O mercado da habitação nova está saturado, e como fator agravante temos a dificuldade de acesso ao crédito que havia outrora.

Porém, a conjuntura económica em que vivemos não pode deixar de ser um motivo para repensar a nossa atitude perante a atividade.

A revitalização do setor passará por saber identificar antecipadamente quais os desafios futuros, que a meu ver passam inevitavelmente pela reabilitação urbana e arquitetónica, como uma das saídas possíveis para a crise neste setor. A reabilitação deve ainda assentar na melhoria e sustentabilidade do ambiente construído e da sua manutenção periódica.

Em Portugal esta é uma área com forte potencial, quer ao nível dos centros tradicionais quer no âmbito da desfiguração das periferias urbanas, se tomarmos como exemplo outros países da união europeia. Todos sabemos que face à nossa realidade territorial e geográfica, este parece ser realmente o caminho para estancar o crescimento desmedido, e desajustado face às reais necessidades do país.

O excesso de construção de raiz, resultante de uma economia assente na especulação, numa legislação do arrendamento perfeitamente obsoleta, e num planeamento deficiente por parte da administração pública, cujo financiamento depende em grande parte de taxas afetas à construção, levou a uma desertificação crescente dos centros urbanos em favor de um crescimento periférico desordenado e de má qualidade. Nos últimos 50 anos cometeram-se erros que levaram à destruição de parte substancial da nossa paisagem. Esta realidade, tem efeitos socioeconómicos e ambientais negativos, com elevados custos para o país e contribui para delapidar um recurso importantíssimo como é o caso do turismo.

Nos últimos anos, alguns passos foram dados no sentido de minimizar estes efeitos, designadamente a alteração do quadro legal da edificação, da qual resulta uma maior exigência ao nível do comportamento térmico dos edifícios, e da redução dos gastos energéticos com metas traçadas pela União Europeia que apontam para 15 ou 20 anos. Estas medidas revestem-se de uma enorme importância para a redução do impacte ambiental da construção, e aplicam-se não só na construção nova como também na reabilitação.

Penso que as empresas do setor deverão entender estas mudanças como uma oportunidade, e não como uma ameaça. As empresas devem, de forma consciente, entender esta responsabilidade como coletiva, investir na investigação e desenvolvimento com vista à inovação e estar atentas às novas tendências.

Apesar de uma crescente sensibilização neste sentido, muito há ainda por fazer, e o abrandamento do setor da construção, não significa necessariamente uma paragem. Há, na minha opinião, espaço para trabalhar e investir nesta área. A inovação não passa apenas por alterar produtos, implica modificar técnicas, métodos de produção e execução.

Para além da reconhecida importância na economia, o setor da construção tem evoluído positivamente nos últimos anos, estando cada vez mais habilitado tecnicamente, ou seja mais apto a responder aos diferentes desafios que tem por diante, incluindo os internacionais.

A título de exemplo, passo a referir a construção pelo sistema pré-fabricado, que assume uma grande percentagem da construção em países mais desenvolvidos, e praticamente não tem expressão em Portugal. A pré-fabricação, contrariando o estigma instalado associado à má qualidade e a obras de carácter temporário, poderá, para além de um conjunto de vantagens em termos económicos e ambientais, ter muita qualidade. Esta metodologia de construção permite uma redução do tempo em obra, redução de custos, redução do impacto ambiental, e maior controlo de qualidade de produção, com consequências directas no resultado final da obra.
Neste sentido, e atentos às necessidades cada vez maiores de uma construção bioclimática, mais "verde" e amiga do ambiente, a Vigobloco a par com a Filipe Saraiva – Arquitectos, têm investido no desenvolvimento deste processo, destinado a vários usos, com especial destaque no uso habitacional, armazéns e naves industriais. Trata-se de uma metodologia construtiva que utiliza elementos pré-fabricados em betão, com elevada performance, em termos de compartimento térmico e acústico, resistência mecânica e estanquicidade.

A utilização deste tipo de elementos pré-fabricados, resulta numa maior eficiência energética, dos edifícios na medida em que reduz os gastos energéticos de climatização. Por outro lado, e dado que estes elementos são fabricados em unidade industrial, e sujeitos a um rigoroso controlo de qualidade, o impacto de obra e instalação de estaleiro é praticamente inexistente, o que reduz claramente o impacto ambiental.

Como alguém dizia, já não estamos perante uma crise, mas sim perante uma nova realidade. Ora, de acordo com este princípio, talvez tenhamos que mudar de paradigma no que diz respeito às atividades inerentes ao setor, e adotarmos, todos os intervenientes uma atitude pró-ativa e atenta às novas realidades.

Para tal, é forçosa uma maior capacidade e habilitação técnica, uma seletividade e racionalização do investimento, mais clareza da legislação e melhor resposta das entidades licenciadoras.

Filipe Saraiva
Arquiteto

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