Duas obras selecionadas fantásticas: "A viagem do elefante", de José Saramago" e "A sombra do vento", de Carlos Ruiz Zafón.
Boas leituras: Cláudia, Simão e Ana!
A viagem do
elefante, José Saramago
O elefante Salomão, renomeado Solimão por quem pôde fazê-lo, veio da Índia para Lisboa e cá esteve mais de dois anos. Não sabemos porque veio.
Esteve em Belém e, depois de ter sido alvo de todas as atenções, foi perdendo a aura que a novidade empresta e que durante algum tempo lhe trouxe frequentes e até ilustres visitas.
Quando o rei D. João III de Portugal resolve oferecer o elefante a seu primo, o arquiduque Maximiliano da Áustria, genro do imperador Carlos V, resolve dois problemas de uma assentada: encontrar um presente de exceção à altura do presenteado e dar um destino ao elefante. Mas vai encontrá-lo e ao seu cornaca Subhro, que veio a ser Fritz, no cercado em que ambos moravam em Belém, exibindo triste condição, denunciadora do esquecimento que foi caindo sobre eles, e longe da imagem de dignidade exigida a um presente para as excelsas figuras do arquiduque e sua esposa.
É posta imediatamente em marcha uma operação de asseio, e conhecida a aceitação do presente por parte do presenteado, o rei faz constituir, sem mais demoras, uma extensa comitiva para prover às necessidades de Salomão durante a viagem, à sua segurança, e às exigências diplomáticas da missão.
A comitiva põe-se em marcha em direção à fronteira espanhola em Castelo Rodrigo, onde se encontrarão com o exército austríaco. Após alguma tensão entre os dois exércitos quanto à entrega do presente, Salomão acaba por sair dali sob a responsabilidade duma comitiva mista, portuguesa e austríaca, com direção a Valladolid, de onde, pouco depois prosseguirá viagem para Viena de Áustria, já na companhia dos seus novos donos.
Os sucessos da viagem e as personagens que surgem no caminho, as dificuldades enfrentadas por elefante e comitiva por essa Europa acima em direção à Áustria, por caminhos de terra e de mar, são uma metáfora da vida e da humanidade, construída pela escrita viva do detentor do prémio Nobel de 1998, com a lucidez e a ironia que o caracterizam.
A sombra do vento, Carlos Ruiz Zafón
Tudo começa
em Barcelona, em 1945. Numa madrugada fantasmagórica, o pai de Daniel Sempere
leva-o a um misterioso lugar no coração do centro histórico da cidade, o
Cemitério dos Livros Esquecidos. O lugar, conhecido de poucos barceloneses, é
uma biblioteca secreta e labiríntica que funciona como depósito para obras
abandonadas pelo mundo, à espera de que alguém as descubra. É lá que Daniel
encontra um exemplar de A Sombra do Vento, do também barcelonês
Julián Carax.
O livro
desperta no jovem e sensível Daniel um enorme fascínio por aquele autor
desconhecido e pela sua obra, que ele descobre ser vasta. Obcecado, Daniel
começa então uma busca pelos outros livros de Carax e, para sua surpresa,
descobre que alguém vem queimando sistematicamente todos os exemplares de todos
os livros que o autor já escreveu. Na verdade, o exemplar que Daniel tem em mãos
pode ser o último existente. E ele logo irá entender que, se não descobrir a
verdade sobre Julián Carax, ele e aqueles que ama poderão ter um destino
terrível.
A Sombra do Vento usa o cenário grandioso de Barcelona, com as suas largas avenidas,
os seus casarões abandonados, a sua atmosfera gótica, para ambientar um romance
arrebatador que é também uma reflexão sobre o poder da cultura e a tragédia do
esquecimento. A busca de Daniel marca a sua transformação de menino em homem, e
desperta no leitor um fascínio renovado pelos livros e pelo poder que eles
podem exercer. Ao ler A Sombra do Vento, o desejo que se tem é de, assim
como o menino Daniel, abrir as portas do Cemitério dos Livros Esquecidos e
descobrir nos seus infindáveis corredores o livro que mudará as nossas vidas.
Fátima Lucas
e Isabel Marques