16/09/10

Crónicas sem Título, por José Ribeiro Vieira


“ Mariano Gago, actual ministro da Ciência e do Ensino Superior foi o melhor aluno do meu curso e um dos melhores de sempre do Técnico. O actual ministro tinha notas excelentes não porque estudasse muito, mas porque percebia o que os professores diziam nas aulas, mesmo quando a matéria era mais difícil e complexa. Por vezes, só ele e um ou outro mais dotado é que entendia. O problema dos alunos de então, como os de hoje, será exactamente o de falta de compreensão do que os professores fazem por ensinar, nas aulas. Ou porque não estão preparados para compreender a conexão entre as matérias por falta de estudo, ou porque estão desconcentrados ou distraídos, esperando ansiosamente que cada aula chegue ao fim. E isto é tanto mais assim quando se trata de disciplinas como são a matemática e a física. É preciso compreender o que se estuda. A este propósito lembro-me de uma história do tempo em que dava explicações de matemática a alunos do então 7º ano, agora 11º, que antecedia a entrada na Universidade.
O meu primeiro aluno, o Cândido, dispunha de pouco tempo para estudar; percebendo, porém, bem o que se lhe explicava. Quando chegou a altura de fazer exame conseguiu ir à oral. Nessa altura era assim! Apareceu-me entretanto muito desanimado porque, o professor que o ia interrogar era conhecido, no então Liceu de Oeiras, por chumbar muitos alunos. Gritava até com os examinados, quando não percebiam o que diziam. Lembrei-me então, de que nesse Liceu estava um “célebre” professor que o tinha sido também no Liceu de Leiria, o Dr. José Júlio. Fui confirmar, encontrando-o num corredor desse Liceu. Ao que eu disse, recordava-se ainda de mim. Lá lhe contei que tinha um aluno para fazer exame com ele, mas que a esperança que tinha de passar era pouca pois, ao que se dizia, a fama que tinha em Leiria continuava a existir em Oeiras! Ficou zangado e disse-me que só chumbava os que não percebiam o pouco que sabiam, pedindo-me para ir assistir a uns exames orais no sentido de entender porque perdia ele a paciência com os alunos, chumbando alguns.
Lá fui. Tinha razão, em parte, o Dr. José Júlio. A maioria não percebia o que dizia ou escrevia. O Cândido passou e até bem. O professor deu-me os parabéns, que endossei ao aluno. Mais do que “saber de cor”é, de facto, preciso compreender. Na matemática, na física, como em tantas outras matérias, disciplinas e coisas, diz-se não só o que se não sabe, como principalmente o que não se compreende. Porque para compreender é preciso estudar e até mesmo reflectir. Sem pressa. Estudar não é decorar ou “marrar”, como se diz na gíria. É principalmente apreender e entender, resistindo a virar páginas sem ter percebido as anteriores.
Este texto é um pequeno contributo, uma história para os alunos e talvez para pais e professores, que vão agora começar um novo ano. Nunca mais encontrei o Cândido…"

In Jornal de Leiria
Edição 1365 - 09 de Setembro de 2010

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