22/11/11

Os jovens, os pais e as drogas

O consumo nocivo de substâncias/drogas é um assunto que faz parte do nosso quotidiano e portanto não se pode ignorar… no entanto, para grande parte dos pais/encarregados de educação é certamente um assunto difícil de abordar com os filhos e para o poder fazer é necessário obter o conhecimento e a confiança necessários. Foi por essa razão que a INSIGNARE promoveu uma palestra sobre o tema dirigida a pais/encarregados de educação, no dia 18 de novembro, no auditório da EPO.



Os oradores convidados, a Dr. ª Joana Neves (psicóloga/terapeuta de aconselhamento na Comunidade Vida e Paz que promove o tratamento e reinserção social de toxicodependentes) e o Pedro (um adulto em recuperação) partilharam os seus conhecimentos e experiência neste domínio. Os participantes – pais/encarregados de educação e professores da EPO e da EHF – obtiveram assim mais conhecimento e melhor compreensão deste assunto, que se poderá refletir nas suas práticas educativas, na forma de agir com os filhos/alunos, tendo em vista a prevenção e/ou resolução de situações que possam já ser problemáticas.



A Dr.ª Joana Neves iniciou a palestra com uma breve abordagem das substâncias mais comuns e dos tipos de consumos possíveis que vão desde a experimentação, pontual, à dependência física e psicológica. E ninguém pode prever que tipo de consumo pode manter, pois há pessoas com maior predisposição genética para desenvolver a doença da dependência do que outras. Importa pois saber o que contribui para o surgimento de situações de dependência, sabendo desde logo que há vários fatores implicados. De facto, não consome drogas, só quem tem problemas familiares evidentes ou outros (como é comum pensar-se), há também outras razões, como: a curiosidade; o desejo de testar os limites e quebrar as regras; o desejo de afirmação; a pressão dos pares; a informação incorrecta ou a ausência de informação; o fácil acesso e a existência de um ambiente propício à experimentação.



As interações pais-filhos são muito importantes no desenvolvimento e podem ser um fator de risco ou de proteção face ao consumo. Deste modo, as atitudes desejáveis são aquelas em que há sensibilidade aos sentimentos dos filhos, em que eles se sentem ouvidos e aceites, pois assim tornam-se pessoas com confiança em si mesmas, pessoas que conhecem as suas competências mas também as suas limitações. É ainda muito importante a existência de um ambiente de lazer estruturado, com prática de actividades extracurriculares, socioculturais ou desportivas, por exemplo, em que o jovem aprende a relacionar-se com os outros e a criar laços.

A abordagem do assunto, em casa, deve ser promovida mas com alguns cuidados: evitando visões extremistas e juízos de valor ou preconceitos; encorajando a discussão de forma casual e descontraída; tolerando a diferença de opiniões; sendo honesto acerca do nível de conhecimentos que se possui e procurando em conjunto outras informações, se necessário; mostrando disponibilidade (quer no tempo, quer na atitude) para responder às questões; respeitando a privacidade dos filhos e não divulgando nunca informações confidenciais por eles partilhadas.

É também aconselhável aos pais de adolescentes/jovens estarem atentos a alguns sinais: instabilidade emocional (mudanças frequentes e bruscas de momentos de grande passividade ou agressividade); isolamento e secretismo; desinteresse e desmotivação; faltas ou atrasos frequentes à escola/trabalho; desaparecimento de objetos e posse de objetos estranhos (comprimidos, colheres, mortalhas). Se se reconhecer apenas um ou dois destes sinais, tal pode dever-se a outras razões; se houver vários, convém ficar mais atento e se todos estiverem presentes é revelador de um problema de consumo de droga. Neste caso, é fundamental não dramatizar, não ameaçar, mostrar objetivamente que houve uma mudança de comportamento e não é apenas uma desconfiança, falar abertamente, sem acusações ou culpas e procurar ajuda.

Por fim, tivemos oportunidade de ouvir o testemunho do Pedro, um toxicodependente que neste momento está a tratar a dependência psicológica, o que implica, nas suas palavras “não uma mudança do meio à minha volta mas de mim, do modo como eu vejo o mundo, da minha maneira de sentir e de me relacionar com os outros.”

Sofia Ferreira
Psicóloga

2 comentários:

  1. Mais uma grande iniciativa da Insignare que tive todo o prazer em participar. Penso que muitos pais/encarregados de educação faltaram ao convite, talvez devido ao temporal dessa noite. Posso dizer que foi um serão bem passado, até melhor que a ida a um cinema ou a uma festa. Gostei de ouvir a Dr.ª Joana Neves a respeito dos seus conhecimentos. Mas ouvir na primeira pessoa (Pedro) o testemunho da sua experiência e no final ter tido o prazer de lhe agradecer pessoalmente, por ter tido a coragem de se expor publicamente num tão nobre ato e desejar-lhe muita coragem para continuar o seu tratamento, fez-me sentir útil e bem comigo mesmo.

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  2. Muito obrigada pela sua partilha, para nós é muito importante saber a vossa opinião sobre o que fazemos para podermos ajustar as ações às vossas necessidades e expetativas.
    Sofia Ferreira

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